Doenças temíveis que afetam os cães

Assim como nós humanos adoecemos de males contagiosos, nossos amigos caninos e felinos também estão suscetíveis a doenças graves. As doenças vão se reinventando por assim dizer, elas têm um começo, um surgimento de inocente a assustador. Há doenças milenares, como outras recém descobertas, e todas sempre muito bem estudadas. Hoje no que refere-se aos cães há um boom da incidência de doenças transmitidas por carrapatos superando as terríveis viroses, que no passado não se dispunha de vacinas eficazes e nem o hábito de usá-las. Hoje todos sabem que há vacinas para prevenir muitas viroses, como especialmente a cinomose e a parvovirose que são potencialmente letais se não devidamente tratadas e que quando não leva ao óbito, deixa sequelas muito graves no cão, como de fundo neurológico a exemplo da cinomose.

A cinomose e a parvovirose, apesar de serem prevenidas por vacinas, infelizmente ainda assolam o nosso meio. Muito comuns em cães abandonados ou que nascem fora de um ambiente domiciliar ou insalubre. Típicas de filhotes, essas doenças são transmitidas por contato direto com o vírus, porque outro animal esteve naquele ambiente contaminado, carreando o vírus por meio de secreções e dejetos.

A cinomose, causada por um RNA vírus da família Paramyxovirus, gênero Morbilivirus, é uma doença mais frequente em filhotes que não receberam ou não concluíram o esquema vacinal. O vírus é eliminado em fluidos respiratórios, conjuntivais, urina e fezes por até 90 dias após a infecção ter iniciado. Os principais sinais clínicos são secreção óculo-nasal, vômitos, diarreia, febre, broncopneumonia, convulsões, tiques nervosos e até paralisia. Os sinais neurológicos podem surgir sem necessariamente terem aparecidos sinais de doença respiratória, gastrointestinal ou cutânea. Isso pode ocorrer em cães adultos que podem apresentar encefalite com manifestações clínicas de depressão, andar em círculos e deficiências visuais. Exames clínicos e laboratoriais como hemograma, pesquisa sorológica de anticorpos ou pesquisa do vírus no sangue, líquor ou secreção mucosa conjuntival são métodos conclusivos de diagnóstico (www.zoetis.com.br>caes>d).

A parvovirose canina, doença altamente contagiosa, cujos principais sintomas são diarreia com sangue e vômitos profusos, gerando uma desidratação profunda, anemia, hipoproteinemia, acomete tipicamente filhotes, que igualmente à situação da cinomose, não receberam ou não completaram o ciclo de vacinas. A transmissão desse DNA vírus, da Família Parvoviridae ocorre principalmente por via oro-nasal por contaminação com fezes do animal doente. Objetos inanimados e ambiente contaminados podem ser potencialmente infectantes por até 6 meses. O diagnóstico é feito através de sinais clínicos e histórico do animal, mas existem testes de pesquisa do vírus nas fezes, no sangue, por hemaglutinação e pesquisa de anticorpos no soro sanguíneo. O tratamento é de suporte com reposição hídrica e eletrolítica, antibióticos e controle de vômitos e deve ser feito mediante internação do animal pois o índice de mortes é muito alto. Por isso o ideal é a vacinação preventiva, que pode ser iniciada a partir de 42 dias de nascido (PAVAN,R.T.,2009 – Parvovirose canina-Revisão de literatura-www.ufrgs.br).

A raiva, tão comentada e temida por todos é uma doença zoonótica muito antiga em nosso planeta. Muito antes de Louis Pasteur, microbiologista francês, desenvolver a vacina em 1885 já era um problema de saúde pública. Em nosso país, o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR) foi criado em 1973 com o objetivo de promover atividades sistemáticas de combate à raiva humana com o controle nos animais domésticos e o tratamento específico das pessoas mordidas ou que tivessem tido contato com animais contaminados (SCHNEIDER, M.C.;1995 – Controle da raiva no Brasil de 1980 a 1990 -www.scielosp.org>article>rsp). Esse RNA vírus, que pertence à Família Rhabdoviridae e Gênero Lyssavirus é perfeitamente prevenido pela vacinação anual dos animais domésticos (Guia de Vigilância em Saúde – www.saude.gov.br>saude-de-a-z).

Além destas viroses, há um grupo de doenças parasitárias transmitidas por carrapatos da espécie Riphicephalus caninus, que são aterrorizantes para quem cria cães. Infelizmente não há vacinas para evitá-las, mas um controle constante. Simplesmente o cão não pode ter carrapatos para não desenvolver erliquiose, babesiose, anaplasmose e borreliose, que são as hemoparasitoses mais danosas aos cães. Doenças essas que se iniciam no corpo do animal de forma silenciosa ou pouco evidente aos olhos dos tutores dos cães. Manifestações clínicas podem ocorrer de forma sutil, como uma redução discreta do apetite ou vômitos esporádicos. Quando o animal manifesta sintomas o parasita já estava há um bom tempo circulando em seu sangue causando danos sistêmicos gerando risco de vida, pois se não receber o tratamento adequado pode vir a óbito (SILVA, 2015 – Revista Científica de Medicina Veterinária-ISSN:1679-7353.AnoXIII,n.24).

A erliquiose é uma hemoparasitose causada por uma bactéria da Família Rickttsiaceae, Ordem Rickettsiales, Gênero Erlichia spp, Espécie Erlichia canis (ALMOSNY,2002 – Hemoparasitoses em pequenos animais domésticos e como zoonoses.Rio de Janeiro:NDL.F.Livros, 2002).

A infecção se inicia no momento do repasto sanguíneo que o carrapato faz no cão e daí de 8 a 20 dias tem seu período de incubação, multiplicando-se no fígado, baço e linfonodos e essa é a fase aguda da doença com alterações sistêmicas. E após essa fase aguda da doença vem a fase subclínica podendo levar até 5 anos com sinais de trombocitopenia (redução da concentração de plaquetas no sangue), leucopenia variável e anemia. Quando a Erlichia spp persiste na forma intracelular resulta na fase crônica da doença. A fase crônica atinge a medula óssea gerando o surgimento de hipoplasia levando a um quadro de anemia aplástica, monocitose, linfocitose e leucopenia (NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais.2 ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2001). O ideal é que a doença não aconteça no cão e se ocorrer, que seja tratada o mais rápido possível para que não se instale a fase crônica da doença que gera danos que levam à morte. O tratamento é simples, à base do antibiótico doxiciclina de 12 em 12 horas por 28 dias e terapia adjuvante para melhorar o estado geral do animal que vai variar de acordo com a gravidade dos sinais clínicos. O diagnóstico sempre está associado ao quadro clínico, exames laboratoriais como pesquisa de hematozoário no sangue circulante, sorologias específicas para pesquisar anticorpos anti-Erlichia canis, ou mesmo a pesquisa do DNA do agente causal através do teste PCR (Polymerase Chain Reaction).

Mas o carrapato pode transmitir a babesiose também, para nossa preocupação. A babesiose é uma hemoparasitose causado pelos protozoários Babesia canis e Babesia gibsoni. Ambas espécies têm como hospedeiro definitivo o cão e invade os eritrócitos (glóbulos vermelhos do sangue) reproduzindo dentro deles e destruindo-os. Os animais acometidos podem apresentar perda do apetite, apatia, diarreia, pneumonia, febre, hemoglobinúria, que é a urina escura devido a destruição dos eritrócitos liberando hemoglobina, anemia e icterícia. O diagnóstico vai da junção dos sinais clínicos, histórico de presença de carrapatos aos exames laboratoriais como a identificação do parasita em esfregaços sanguíneo do hemograma, como a pesquisa de anticorpos específicos no soro sanguíneo ou também a pesquisa do DNA do parasita através do teste PCR.

O curso desta enfermidade é mais curto podendo ser de até um pouco mais que um mês, porquê a destruição das células é progressiva, porém o organismo repõe as células sanguíneas para compensar a perda das células vermelhas (eritrócitos). Essa perda sanguínea por destruição celular é progressiva  podendo levar o cão à morte. O tratamento é feito com a aplicação injetável do dipropionato de imidocarb, sob a supervisão veterinária, pois é necessário fluidoterapia e terapias preventivas de efeitos colaterais que são ruins ao animal. E em casos muito graves a aplicação é feita juntamente com transfusão sanguínea.

Enfim, essas doenças são muito graves, mesmo com tratamento instituído o mais rápido possível há riscos de o animal não suportar os danos causados aos órgãos, por isso o melhor sempre é a prevenção. Vamos vacinar e vamos combater os carrapatos sempre!

Suzana Cláudia Spínola dos Santos – CRMV BA-1544
Médica veterinária da Clínica Diagnose Animal

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