Você sabia que cães podem precisar de transfusão de sangue? Saiba como funciona e sua importância

Em nosso meio os animais de estimação são considerados membros da família e com isso passaram a receber cuidados médicos veterinários mais amplos, o que inclui os benefícios da medicina transfusional. Os cães rotineiramente desenvolvem afecções médicas clínicas e cirúrgicas como os humanos, tornando-se modelos de estudo1. Por isso muitos cientistas, além dos médicos veterinários, podem se beneficiar com os estudos acerca dos grupos sanguíneos, aloanticorpos e técnicas de tipagem com tecnologia avançada, como a citometria de fluxo.

Na medicina veterinária, a demanda por hemoterapia tem crescido na proporção em que aumenta a população de animais de companhia. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 estimou a proporção de que 44,3% dos domicílios do país possuíam pelo menos um cão, o que corresponde a 28.900.000 de domicílios.  Hoje a população estimada de cães é de 52.200.000 em todo território nacional, o que corresponde a 1,8 cão para cada domicílio2. E esses, ao serem acometidos de patologias que comprometem o sistema hematopoietico serão candidatos ao recurso de transfusões sanguíneas. Apesar disto, os animais doadores ainda são limitados, por envolver a disponibilidade de seus tutores.

A Medicina Transfusional apresenta papel importante na clínica de animais de companhia pois, dentre seus objetivos, reestabelece a volemia e a reposição de proteínas hemostáticas, assim como a oxigenação tecidual, melhora a atividade oncótica e faculta transferência passiva de imunidade3,4. A transfusão sanguínea é uma forma de transplante, apresentando, portanto, riscos associados aos seus procedimentos5. Uma rigorosa seleção de doadores reduz o risco de reações transfusionais.

Estudos relacionados à Medicina Transfusional, apontam o uso desta terapia nos Estados Unidos, em torno de 70% em situações de perdas sanguíneas por traumatismos, 14 a 22% em anemias hemolíticas e de 8 a 14% em casos de eritropoiese deficitária. O crescente uso de hemocomponentes e o declínio do uso do sangue total tem ocorrido nos cães, motivado pelo desenvolvimento de pesquisas no meio científico1.

Atualmente, em Medicina Veterinária, a prática segura das transfusões sanguíneas ganha cada vez mais destaque, estabelecendo-se normas de triagem para os animais doadores, o que representa uma tendência de padronização da avaliação pré-transfusional6.

Sabe-se que, para uma transfusão de sangue segura, é importante que se faça uso do sangue tipificado e compatível7,8. O reconhecimento dos tipos sanguíneos na imunohematologia em diferentes populações caninas de variadas raças tem sido estabelecido com o objetivo de manter um arquivo de dados dos doadores9.

Transfusões sanguíneas podem desencadear reações de incompatibilidade que vão desde febre a reações agudas imunomediadas e outras reações tardias que estão diretamente associadas à transfusões incompatíveis, que podem ser minimizadas pela prática da realização de provas de reação cruzada e de tipagem10.

  1. Hohenhaus AE. Importance of blood groups and blood group antibodies in companion animals. Transfus Med Rev. 2004 Apr 2; 18:117-26.
  1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Presença de animais no domicílio [Internet]. 2013 [acesso em 2014 jan 10]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf.
  1. Reichmann P, Dearo ACO. Transfusão de sangue e seus derivados em grandes animais. Ci Agr. 2001; 22 (2): 223-8.
  1. Bochio MN, Morikawa MK, Pincelli VA, Silva PFN, Balarin MRS, Pereira PM. Avaliação do volume globular antes e após a transfusão sanguine: estudo retrospective. Clín Vet. 2010 Mai-Jun; XV(86): 68-70.
  1. Lemos DAS, Novais AA, Nogueira AFS. Avaliação laboratorial de cães após transfusão de sangue total. Vet e Zoot. 2010; 17(supl. 1): 67.
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  1. Esteves VS, Lacerda LA, Lasta CS, Pedralli V, González, FHD. Frequencies of DEA blood types in a purebreed canine blood donor population in Porto Alegre, R.S., Brazil. Pesq Vet Bras. 2011 Fev; 31 (2): 178-81.
  1. Vap LM. An update on blood typing, crossmatching, and doing no harm in transfusion dogs and cats. Vet. Med. 2010; 1: 447-53.

 

Dra. Suzana Cláudia Spínola dos Santos – CRMV BA-1544
Médica Veterinária da Clínica Diagnose Animal

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