Episódios marcantes e hilários de um professor que já criou 37 bichos de estimação
A paixão do professor e designer Fábio Sampaio D’Almeida Couto pelos animais vem da infância. Já adulto, com seus vinte e poucos anos, a vontade de cuidar dos bichos o impeliu, lá pelos idos de 1999, a adotar, numa casa no Rio Vermelho e sem nenhum auxílio financeiro, 37 animais de estimação. Não, você não leu errado: foram, ao todo, 37 animais. Para ser mais exato, 27 gatos e 10 cachorros. Hoje, 20 anos depois, o professor lembra com orgulho desse passado.
Mais do que a sensação de dever cumprido, a vida ao lado desses bichos lhe deixou saudade e inúmeras histórias para contar. Muitos animais, alguns filhotes, viviam em situação de abandono até ganhar o novo lar cheio de cuidados. Todos os 27 gatos foram resgatados das ruas, enquanto os cachorros foram doados por amigos e conhecidos.
“Até hoje lembro que era tanto bicho junto que, quando acabava de limpar a casa toda, me deparava com uma nova sujeira”, revela o professor. Na época, um apresentador popular chegou a repreender Fábio ao vivo na TV devido à quantidade de animais que moravam na casa dele. “Recebi um cartão vermelho no programa de Varela”, conta, aos risos, atribuindo a origem da queixa aos moradores do bairro. “Muita gente não via com bons olhos”, explica.
Indiferente às opiniões mas atento às reclamações dos vizinhos, o professor continuou adotando mais e mais bichos. Uma vez, vestido de Cleópatra e andando apressado em direção ao circuito do Carnaval, Fábio encontrou um filhote na rua e, logo que se certificou que tratava-se de um bicho abandonado, preferiu sacrificar alguns minutos das comemorações da sua festa naquele dia. Prontamente, desistiu de seguir para o circuito do Carnaval para voltar à sua casa, onde chegou de fantasia e todo animado levando, a tiracolo, mais um gato nos braços.
Casa essa que já tinha gato para todo lado, de vários tamanhos, tantos gostos e idade. De pelo curto, peludo, pelos de diferentes cores e variedade. Todos eram saudáveis, espertos, mas tinha uma, chamada Pretinha, que, lamentou Fábio, não enxergava. “Ela era a mais carinhosa”, lembra. Dos bichanos, ele também sempre fala de Zeca, cuja mania de dormir na caixa de uma televisão antiga ainda é motivo de graça. “Eu ria toda vez que ele começava a pegar no sono em cima da TV e caía assutado”.
Mas quem se destacava mesmo pela esperteza e inteligência era Camila, uma gata preta e branca de corpo esguio. “Ela aprendeu sozinha a empurrar maçaneta da porta. Assim, conseguia abrir a porta quando ela estava destrancada. “É o animal mais inteligente que conheci”, afirma o professor para, logo depois, abrir espaço para uma ressalva. “Aliás, também me surpreendi com Meu. Não acreditei quando encontrei aquele gato com as patas apoiadas sobre o vaso sanitário enquanto urinava. Nunca imaginei um animal fazendo isso”.
E quem chegou até aqui achando que os relatos estavam dominados pelos felinos, vai poder ver histórias tocantes e engraçadas dos cães criados por Fábio. Tião, um pastor alemão branco, onde podia ir, lhe acompanhava, fosse para caminhar na rua ou lhe seguir dentro de casa. À noite, lembra professor, costumava molhar o chão do banheiro para agradar o bicho. “Era um cachorro muito peludo e por isso sentia bastante calor, então todo dia ele deitava no piso”.
Das lembranças difíceis, a doença de Olívia. A cadela foi diagnosticada com cinomose e passou a ter como sintoma tremedeiras e dificuldade para andar. Numa consulta ao veterinário, a recomendação foi a de sacrificá-la. Na época, o professor foi alertado para perigo da doença e seu poder de contágio. “Não sacrificamos, e a cinomose não contaminou os outros cachorros”, diz Fábio, aliviado, para, em seguida, emendar uma história mais leve. “Já Zé aprontava toda vez que eu saía de casa. Ele demonstrava seu descontentamento em ficar sozinho rasgando os sapatos que encontrava pela casa”, conta entre risadas.
Depois de um tempo, no entanto, a vida de Fábio com tantos cachorros e gatos foi inviabilizada. O professor precisou se mudar e não havia espaço para os bichos no novo apartamento, lhe restou como única escolha a doação, que recebeu todo o cuidado dele quando chegou a hora de encontrar uma nova família para os animais. “Pessoas que demonstraram ser confiáveis e responsáveis”, afirma. Mas se engana quem achou que assim, se despedindo dos bichos, acaba a história de Fábio com os animais. Hoje, ele é pai de duas gatas, Sthephanie Maria e Senadora. Feliz, dedicado e bobo, como todo pai, claro.
Kleyzer Seixas Guedes
Jornalista