O impacto dos estouros dos fogos de artifícios sobre os animais

Uma das épocas mais aguardadas por nós é também um momento de extrema aflição para os animais e consequentemente para seus tutores. Os estouros dos fogos que acontecem durante festejos juninos, comemorações de final de ano e nos grandes eventos esportivos, como a copa do mundo que se aproxima, causam enorme estresse e angústia às variadas espécies de animais. Não só aos domésticos, mas também às aves e animais silvestres que vivem nas proximidades de áreas urbanas, eles ficam apavorados. O impacto sobre a saúde destes animais é muito grande, gerando muito dano às varias espécies, inclusive causando a possibilidade de morte de muitos destes animais.

A médica veterinária Drª Bruna Smith explica que “o pânico que os pets sentem elevam níveis de batimentos cardíacos, os fazem hiperventilar, por conta disso têm aumento de temperatura, vomitam, apresentam diarreia, tonturas e desmaios, entram e choque, modo de defesa do organismo. A adrenalina aumenta muito, se o animal for cardíaco ou epilético o risco aumenta consideravelmente, alguns chegam a evoluir ao óbito. Alguns animais, a exemplo de algumas raças de cães, são ainda mais sensíveis, a determinados tipos de sons, para esses, o risco é ainda maior”.

Essa reação física no organismo explica porque eles tremem de medo, choram e buscando abrigo, muitos fogem, ficam atordoados com os barulhos produzidos pelos fogos. Acidentes ocorrem em número elevado, os animais que ficam presos em correntes, na tentativa de fuga, podem se enforcar, outros têm suas unhas arrancadas de tanto arranhar portas para tentar escapar, ou seja, para estes indivíduos esse momento de festa se torna um grande calvário e tortura com o barulho produzido pelo estouro dos fogos.

Entenda o quanto os estrondos são tão insuportáveis para os animais

Os ruídos de estrondos dos fogos de artifícios oscilam entre 150 até 170 decibéis, os valores aceitáveis para o ouvido humano variam entre 120 a 140 decibéis, então dá para imaginar o quão deve ser insuportável e catastrófico para os animais a exposição este efeito sonoro de explosões.

A maioria dos animais tem uma audição extremamente apurada, algumas espécies chegam a ouvir o dobro do que os humanos, um exemplo é o cão, ele ouve numa faixa de 20 a 80.000 Hz, alguns animais chegam a escutar até quatro vezes mais.

Já os humanos escutam uma frequência sonora que vai de 40 a 40.000 Hz, então imagine, qualquer que seja um som, amplificado em dobro ou mais em seu ouvido, deve der esta a sensação que os animais têm, pense como ele se sente com um estouro de bomba, imagine o pavor que eles sentem, isso sem falar dos animais ultrassom, que são aqueles que escutam numa faixa de 100 a 200Hz, a exemplo dos morcegos, logo não há dúvida de que é um grande mal e prejuízo para toda a fauna, o estouro de bombas durante estes festejos.

O que pode ser feito para atenuar o sofrimento dos pets nesse período

Enquanto não há consenso, regulamentação e nem conscientização do mal que esses estrondos fazem principalmente durante esses períodos de festejos, vamos sinalizar algumas ações que tutores podem executar para minimizar os sofrimentos de seus pets.

  • Não o deixe sozinho nesse momento, sua presença e suporte são muito importantes, ele precisa de você, de sua proteção e acolhimento;
  • Prepare um ambiente aconchegante e seguro para que seu pet fique durante o período mais crítico de fogos, um quarto de preferência, um lugar onde ele já esteja acostumado e se puder, fique no mesmo ambiente neste período de incômodo intenso;
  • Dentro desse local, coloque alguma caixa, arrume um espaço como uma toca para que ele possa se esconder e sentir-se mais seguro nos momentos críticos de barulho;
  • Tente abafar o som externo cobrindo janelas e portas com materiais que abafem o som;
  • Abrace seu pet nas horas em que ele estiver com medo, a maioria dos animais tremem de medo, nessa hora você deve acolhê-lo e entenda que ele não vai se adaptar a essa situação, pois como já explicamos anteriormente, trata-se de uma questão física, de audição apurada. O barulho alto dos fogos causa dor ao animal;
  • Coloque uma música relaxante em baixo volume, antes de começarem os barulhos intensos, isso pode ajudar a acalmá-lo;
  • Deixe o ambiente com uma iluminação fraca, não o deixe no escuro completo nesse momento. Não é uma questão de visão e sim de aconchego;
  • Não coloque correntes em seu animal, além de caracterizar maus-tratos, a corrente pode, no momento de pânico, fazê-lo se enforcar por acidente;
  • Alguns animais no desespero fogem, por isso, além de manter portas e janelas fechadas, você deve mantê-los com identificação neste período;
  • Alimente bem seu animal antes de começarem os barulhos intensos, normalmente eles não se alimentam bem em períodos de estresse;
  • Deixe os brinquedos que ele gosta, a fim de distraí-lo nesse momento;
  • Antes de começar os barulhos, se for um cão, leve-o para um passeio, vai deixá-lo relaxado e mais calmo.

Legislação sobre o tema

De acordo com a Agência Senado, ainda não existe uma lei federal sancionada que defina regras claras e proteja animais no quesito do uso e comercialização de fogos de artifício que produzem barulhos a partir da explosão de pólvora, o que existe é um Projeto de Lei em análise no senado que trata a questão. A proposta em análise, não proíbe a utilização de fogos visuais, mas veda a fabricação, o comércio, o transporte e o manuseio dos fogos de artifício e de outros artefatos pirotécnicos que produzem barulhos, seja para uso em áreas públicas ou locais privados. A produção e o armazenamento em caso de exportação seguem autorizados.
Fonte: (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/02/07/projeto-de-lei-preve-proibicao-de-fogos-de-artificio-barulhentos)

Alguns munícipios possuem leis próprias que definem regras e em alguns casos até a proibição, a exemplo da cidade de Salvador/BA que dispõe do Projeto de Lei 60/2019, aprovado em dezembro de 2019 pela Câmara Municipal de Salvador. Capinas/SP também possui lei própria que proíbe a prática de uso e comercialização conforme Lei Municipal 15.367, João Pessoa/PB com a Lei Municipal 1.947/2020 e outros poucos municípios país a fora, trataram a matéria e construíram projetos de Leis que regulamentam o tema.

Em Brasília no DF a lei já foi aprovada, mas ainda não foi regulamentada. Alguns estados também já dispõem de leis que definem regras e proíbem os fogos com estrondos, como o estado de São Paulo com a Lei 17.389/21 que teve Lei sancionada em 28 de julho de 2021.

Uma questão acompanha esse tema, trata-se da necessidade de fiscalização. A legislação sobre esse tema precisa existir, mas também não podem ser esquecidas, ferramentas de controle, fiscalização e acesso fácil às denúncias para que efetivamente as leis sejam cumpridas.

O que se nota é que não há ainda, unidade nesta questão em todo país, apenas alguns estados da Federação ou alguns municípios, se atentaram para a questão. Ideal é que haja o quanto antes, uma definição clara através de um projeto de Lei Federal, que possa unificar regras e trabalhar essa matéria e outras tantas questões ligadas à proteção e aos direitos dos animais.

Ainda há muito que ser feito, são necessárias políticas públicas que tratem o Direito e bem estar animal com seriedade, lembrando que muitas questões que envolvem essa pauta são de interesse público, uma vez que muitos temas associados também estão ligados à saúde pública.

Como seres racionais que somos temos a obrigação de prezar pelo bem estar de todos os seres que vivem conosco neste planeta, isso inclui todo o sistema vivo ao nosso redor. Precisamos entender que sem esse sistema equilibrado, nossa vida também estará em perigo, precisamos nos atentar de que a nossa existência está diretamente ligada ao bem estar de todo o nosso entorno, incluindo os animais e o meio ambiente.

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