Estudo da microbiota de marsupiais de vida livre: a busca por novos patógenos com foco na saúde única

UILTON GÓES DOS SANTOS¹, VINÍCIUS PEREIRA VIEIRA¹, KAYCK AMARAL BARRETO¹, JOADSON DOS SANTOS REIS¹, FLÁVIA DOS
SANTOS², ROBSON BAHIA CERQUEIRA¹ , CARLOS ROBERTO FRANKE³, IANEI DE OLIVEIRA CARNEIRO³
1. LABORATÓRIO DE DOENÇAS INFECCIOSAS – LDI, CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS, UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA, CRUZ DAS ALMAS, BAHIA.
2. CENTRO MULTIDISCIPLINAR DE BARRA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA, BARRA, BAHIA.
3. ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, SALVADOR, BAHIA

INTRODUÇÃO

O estreitamento entre fauna silvestre, doméstica e humanos possibilita o surgimento de diversas patogenias de caráter zoonótico (BARBOSA et al., 2011). O Didelphis é um gênero de marsupial americano amplamente distribuído no território brasileiro, sendo estes extremamente  adaptáveis  aos mais diferentes ambientes, revelando a capacidade de coexistir com perturbações causada pela exploração humana dos espaços naturais (CÁRCERES e CHEREM, 2012). O conhecimento da microbiota desses animais pode ser útil tanto para auxiliar no manejo clínico dos animais quanto para reconhecer patógenos de interesse para a saúde pública. O objetivo deste trabalho foi identificar a microbiota associada a este gênero, de modo a verificar a existência de patógenos que caracterize potencial risco para saúde pública e dos animais domésticos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Amostras das microbiotas oral, auditiva, ocular, gênito- urinário e da pele de 2 espécimes de Didelphis aurita (gambá-comum brasileiro) e 2 Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca), hígidos, capturados no estado da Bahia nas cidades de Salvador e Mata de São João, respectivamente. Essas amostras foram repicadas em meio enriquecido com BHI, semeados em ágar sangue de ovino e incubadas a 37°C por 24 a 48 horas. Após crescimento bacteriano, foram realizadas às análises bacteriológicas: a) macroscópicas – tamanho, coloração, aspecto, presença e tipo de hemólise; b) características microscópicas – morfologia e coloração de Gram e c) provas bioquímicas (Citrato, Gelatinase, Esculina e Fenil).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das amostras 35 amostras isoladas, 32 tiveram crescimento bacteriano (Tabela 1). As bactérias Gram-positivas foram expressivamente mais frequente (90,6%) em relação as bactérias Gram-negativas (9,4%). O gênero sugestivo para Enterococcus spp. foi o mais frequente com  crescimento em todas as mucosas e na pele (63,3%), seguido por Nocardia sp. (18,2%), Pseudomonas sp. (9,1%) e Staphylococcus spp. (9,1%). Uma única amostra foi coletada do marsúpio de um dos animais indicando a presença de bacilos Gram-positivos sugestivo para Enterococcus spp. A possível existência de Nocardia sp e Pseudomonas sp. em mucosa de olho, boca e pele desses marsupiais pode estar relacionado aos hábitos de forrageamento no chão. Quando em grandes cidades,  esses animais se aproximam de moradias humanas, lixo e animais domésticos, facilitando o intercâmbio de patógenos (LOPEZ-BARRAGAN et al., 2017). No entanto, o fator de virulência destas bactérias vai depender de fatores predisponentes como estresse, imunossupressão e infecções coexistentes (GOMES et al., 2011).

CONCLUSÃO

Embora tenha sido isolada uma diversidade de bactérias nos animais estudados, nenhuma alteração clínica foi descrita. Em relação aos resultados obtidos, bactérias Gram-positivas encontraram-se mais presentes nas microbiotas das mucosas da conjuntiva ocular, auditiva, oral e genital dos marsupiais pesquisados (D. aurita e D. albiventris), sugerindo a exposição destes animais a bactérias que podem ser patogênicas para os seres humanos e para outros animais.

Figura 1. Obtenção de amostras e resultados microbiológicos. (A) Swab confeccionado para coleta de microbiota.

(B) Colheita de microbiota em um espécime de D. aurita. (C) Ágar sangue contendo diferentes colônias originadas da microbiota. (D) Bacilos gram- negativos sugestivo para Pseudomonas sp. Microscopia 100 x.

 

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. D., MARTINS, N. R. S., MAGALHÃES, D. F. Zoonoses e saúde pública: risco da proximidade humana com a fauna silvestre. Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 14, n. 1/2/3, p. 1- 9, 2011. CÁCERES, N. C.; CHEREM, J. J. Os marsupiais do Brasil: biologia, ecologia e evolução. 2ª ed. Editora UFMS, 2012. GOMES, C. M. B., BATISTA, K. S., OLIVEIRA, S. A., BEZERRA, L. M.

Determinação de enterobactérias de mamíferos silvestres em criadouro conservacionista. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 11, n. 2, 2011. LÓPEZ-BARRAGAN, C. N., SÁNCHEZ, F. Food selection and predation risk in the Andean white-eared opossum (Didelphis pernigra Allen, 1900) in a suburban area of Bogotá, Colombia. Mammalian Biology-Zeitschrift  für Säugetierkunde, v. 86, p. 79-83, 2017.

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