Técnicas Complementares de Importância para o Diagnóstico Odontológico de Cães e Gatos

Bruna Carvalho Smith
Fevereiro de 2023

A odontologia veterinária tem evoluído muito nas últimas décadas, e cada vez
mais se torna evidente a importância do diagnóstico preciso para o sucesso do
tratamento de doenças bucais em cães e gatos. Além do exame clínico
minucioso, a utilização de técnicas complementares, como a radiografia, a
tomografia computadorizada, a ultrassonografia e a citologia, tem se mostrado
fundamental para a identificação de lesões odontológicas e a definição do
tratamento mais adequado.

A radiografia é uma técnica de imagem que utiliza raios-X para produzir uma
imagem dos dentes e dos tecidos adjacentes. A radiografia odontológica é
considerada uma das técnicas complementares mais importantes para o
diagnóstico odontológico em cães e gatos, pois permite a visualização de
estruturas que não são visíveis no exame clínico, como a raiz dos dentes, o
osso alveolar e as estruturas de suporte dentário (MOSSELLE, 2009).
Existem duas técnicas principais utilizadas na radiografia odontológica, que são
a técnica radiográfica intraoral (TIB) e a técnica radiográfica extrabucal (TEB).
Ambas as técnicas têm vantagens e desvantagens e são usadas para
diferentes propósitos no diagnóstico odontológico em cães e gatos (SOUZA,
2013).

A TIB é uma técnica que envolve a colocação do filme radiográfico dentro da
boca do animal, posicionando-o entre o dente e a gengiva. Esta técnica é ideal
para a visualização das estruturas intraorais, como raízes dentárias, coroa
dentária, e região periodontal. É também utilizada para avaliação do espaço da
medula óssea do dente, cáries, fraturas, abscessos dentários e outras
anomalias orais. Esta técnica é muito útil para o diagnóstico da síndrome
periodontal em cães e gatos (HARVEY, 2008).

Já a TEB é uma técnica radiográfica realizada fora da boca do animal, com a
colocação do filme radiográfico ao redor da cabeça do animal. Essa técnica é
usada principalmente para avaliar as estruturas dentárias e ósseas na região
maxilar e mandibular, incluindo dentes impactados, fraturas mandibulares,
tumores ósseos e sinusite maxilar. A TEB é considerada uma técnica mais fácil
e segura, já que o animal não precisa ser sedado, mas sua visualização é
menos precisa se comparada com a TIB (MOSSELLE, 2009).

Apesar das diferenças entre as técnicas de TIB e TEB, não há uma técnica
considerada melhor do que a outra em geral. O que determina a escolha da
técnica é a finalidade do exame. Para um diagnóstico preciso e completo,
ambas as técnicas podem ser usadas em conjunto, o que permite a avaliação
de todas as estruturas orais e maxilofaciais dos animais (SOUZA, 2013).
No entanto, é importante destacar que a TIB é a técnica de escolha na maioria
dos casos de doença periodontal em cães e gatos, pois ela permite a
visualização de lesões ósseas finas que não são detectáveis pela TEB (LEITE
et al., 2011).

Em um estudo comparativo realizado com 50 cães com doença periodontal, foi
observado que a TIB foi mais eficaz na detecção de sinais radiográficos,
especialmente as chamadas lesões finas, que a TEB (LEITE et al., 2011). A
amostra foi composta por cães de diversas raças e idades, que foram
submetidos a radiografias intrabucais e extrabucais para avaliação de possíveis
alterações nos dentes incisivos, caninos, pré-molares e molares.

Os resultados desse estudo indicaram que a técnica radiográfica intrabucal foi
mais eficiente na detecção de lesões nos dentes incisivos, enquanto a técnica
extrabucal mostrou-se menos sensível na detecção de lesões nesse grupo de
dentes. Além disso, a técnica intrabucal foi capaz de detectar duas lesões no
dente canino da hemiarcada superior direita, que não foram identificadas pela
técnica extrabucal, tendo a técnica intrabucal sido considerada a mais indicada
para a avaliação dos dentes caninos além dos incisivos. Por outro lado, ambas
as técnicas foram igualmente eficazes na detecção de lesões nos dentes prémolares e molares (LEITE et al., 2011).

Apesar de o estudo sugerir que a técnica intrabucal é mais eficiente na
detecção de lesões nos dentes incisivos e caninos, é importante considerar a
dificuldade em obter uma boa imagem radiográfica desses dentes, devido à
sua anatomia bucal. Além disso, a técnica intrabucal requer um posicionamento
preciso dos filmes radiográficos, o que pode ser desafiador em alguns casos
(GROSSI et al., 2016).

No entanto, a detecção de lesões grosseiras, como a absorção de furca, foi
igualmente eficiente em ambas as técnicas, o que sugere que não há
preferência quanto à técnica radiográfica a ser utilizada nesse grupo de dentes
(HARVEY et al., 2008). Contudo, é importante ressaltar que as radiografias
intrabucais permitiram um diagnóstico mais preciso das alterações do órgão
dental e das estruturas adjacentes, corroborando com trabalhos anteriores
(CARLSON et al., 2007).

Portanto, conclui-se que o uso de ambas as técnicas pode ser recomendado
para uma avaliação mais completa das possíveis alterações dentárias em cães,
entretanto, a escolha da técnica radiográfica deve ser feita de acordo com a
região a ser avaliada e a lesão suspeita, levando em consideração as
características anatômicas do animal e as limitações de cada técnica.

É importante lembrar que, ao realizar radiografias odontológicas em cães e
gatos, é necessário seguir as orientações de segurança utilizando
equipamentos de proteção radiológica. Além disso, os profissionais de saúde
animal devem estar não apenas familiarizados com as técnicas radiográficas,
mas, também possuir um conhecimento completo da anatomia dentária e
maxilofacial dos animais.

PALAVRAS – CHAVE: Odontologia veterinária. Radiografia odontológica.
Cães. Gatos.

Referências bibliográficas

CARLSON, M.; JUDGE, F.; LEE, C. Comparison of two radiographic techniques
for imaging the teeth of dogs. American Journal of Veterinary Research, v. 68,
n. 7, p. 753-759, 2007.

GROSSI, D. B.; MOREIRA, R. F. C.; BRAGA, E. M. Comparação de duas
técnicas radiográficas para avaliação dentária em cães. Ciência Rural, v. 46, n.
5, p. 808-814, 2016.

HARVEY, C. E.; BARON, T. L.; HALL, K. W. Assessment of two methods for
obtaining standardized dental radiographs in dogs. American Journal of
Veterinary Research, v. 69, n. 7, p. 890-898, 2008.

LEITE, C.A.L.; JORGE, R.; FONSECA, L.M.; DECHERCHI, E.L.R.;
BERNARDO, N.M.; GUIMARÃES, L.D.R. Técnicas radiográficas intra e
extrabucal na avaliação dentária de cães com doença periodontal. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.63, n.5, p. 1099-1103, 2011.
MOSSELLE, P. R. Radiologia veterinária: princípios e interpretação. 4ª ed. São
Paulo: Manole, 2009.

SOUZA, F. A. Radiografia odontológica em cães e gatos: revisão bibliográfica.
Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 18, 2013. Disponível
em:http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/FTQenJg0w0l
ECfE_2013-6-24-15-51-51.pdf. Acesso em: 28 fev. 2023.

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